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As crianças devem ter emoções: o papel da Literatura no desenvolvimento humano

Foto do escritor: Daniela PereiraDaniela Pereira

Atualizado: 29 de ago. de 2019



No início de agosto, aconteceu o Festival de Literatura Pop, FLIPOP. Dentre as conversas sobre processo de escrita, diversidade, representatividade, a mesa "O que torna um livro juvenil em um clássico?" (com Carla Bitelli, Luana Chnaiderman e Pedro Bandeira, e mediada por Tatiany Leite) me deu a ideia para esse texto.


"O que torna um livro bom? É quando ele trata dos sentimentos humanos, trata do leitor. E esses grandes autores trataram do leitor. Os livros deles são espelhos. Quando você para e olha... "Podia ser eu". Quando você lê Romeu e Julieta ou assiste, você imagina [...]. Você vai e chora, lembrando da tua própria vida. E você se vê ali. [...] Você entrou no jogo da Arte. Você sofreu, na própria pele, aquilo que o personagem passou pra você sem ter que ter passado, verdadeiramente, pelos problemas daquele personagem. [...] Então a Literatura é uma maravilha porque faz você passar verdadeiramente por grandes problemas emocionais e psicológicos sem ter que sofrer com eles. Já pensou: pra você amadurecer emocionalmente, você tivesse que sofrer todas as emoções humanas pra aprender? Tivesse que passar pelo remorso, pelo ciúme, pelo amor impossível? Você enlouqueceria e não sobreviveria. A Literatura te amadurece." — Pedro Bandeira

Em relação ao tema Literatura, já comentei como nos identificamos com os personagens e como essas histórias mexem com nossas emoções. Também comentei sobre o cuidado que o autor deve ter, pois este deve pensar no seu público-alvo e adequar a linguagem para que a história seja devidamente compreendida e apreciada.


No decorrer da mesa, os convidados falaram, além do processo de escrita e criação de suas histórias, sobre como os pais tentam "proteger" os filhos de histórias assustadoras ou que lidam com a realidade porque isso talvez possa assustá-los ou traumatizá-los. Os convidados deram vários exemplos de histórias que instigam a curiosidade das crianças e as ajudam a entender o mundo à sua volta.


Vamos pensar na história clássica de Chapeuzinho Vermelho: uma menina que, para levar uma cestinha para a avó, tem que passar sozinha por uma floresta e encontra o temido Lobo Mau. Qual a moral da história? Não confiar em estranhos. Se pensarmos em Pinóquio, o boneco que quer virar menino, mas que, toda vez que conta uma mentira, o seu nariz cresce, e ele se dá mal por causa de suas histórias falsas. O que aprendemos? Não devemos contar mentiras. Se "puxarmos" pela nossa memória, muitas histórias infantis, mesmo tendo alívio cômico ou "suavizada", nos ajudaram a pensar sobre temas mais "pesados". Esses temas são repletos de simbologia (Lobo Mau como um ser estranho, sedutor e não confiável) para que possamos entender as situações e pensar na questão entre Bem e Mal.

"A nossa função não é fechar os olhos deles, é abri-los." — Pedro Bandeira

"Abrir os olhos" das crianças é a função da Arte. Durante a mesa, Pedro Bandeira comentou sobre a necessidade de se estudar Pedagogia: entender a maneira como uma criança pensa é fundamental para entender a realidade dela, quais são seus medos e anseios, além do conhecimento de mundo que ela tem.


Pedro dá o exemplo de uma criança de colo que se esquiva de um estranho porque se sente ameaçada e não entende quem é aquela figura estranha. A referência de proteção são o pai e a mãe. Qualquer coisa além daquela sua "redoma de proteção" configura um perigo iminente.

"Se eu quero falar com eles [as crianças], eu tenho que falar com o interior deles." — Pedro Bandeira

Os autores de literatura infantil devem escrever histórias que remetam à realidade das crianças. As histórias infantis devem conversar com o público infantil, pois a Arte é a pura representação de nós mesmos. Ela nos ajuda a entender nossas emoções sem de fato termos passado por todas as situações difíceis, para que possamos enfrentar esses medos (caso o perigo aconteça) de maneira racional. A Literatura nos afasta da redoma da ignorância, de não querer entender como e por que algo acontece.



Assim, devemos fomentar a leitura, pensando nos textos apropriados para cada idade. Não é porque uma criança tem dez anos de idade que ela não pode ouvir falar, por exemplo, sobre a morte. Algumas histórias tendem a tratar a morte como um "rito de passagem", um "descanso eterno". Dependendo do assunto e do público-alvo, a história tem que ser bem-adequada, mas não deve ser ignorada nem escondida. Nós, seres humanos, passamos e passaremos por diversas situações, boas e ruins. Não é uma má ideia ter referência de algo ruim que não aconteceu com você, que foi apenas lido e vivido (em sua imaginação), para saber como lidar caso aconteça, certo?


Pedro afirma que não é necessário "levar um chifre" para entender como é ruim ser traído. A Literatura nos faz passar por essas experiências apenas na nossa imaginação. Vivemos, sofremos, rimos, choramos, nos revoltamos com os personagens das histórias.


Temos de nos atentar também à censura que muitos desses clássicos infantis vêm recebendo. A escritora Ana Maria Machado, com 50 anos de carreira recém-completados, teve seu livro O Menino que Espiava para Dentro envolvido em uma polêmica. Disseram que o livro, lançado em 1983, faz apologia ao suicídio por conta de uma parte em que o amigo imaginário do personagem diz que se ele se engasgar com uma maçã e parar de respirar, todos os problemas dele estariam resolvidos, pois ele estaria no mundo da imaginação. Incrédula, a autora afirmou que escreveu uma história sobre um menino solitário que queria muito um amigo e, no fim, ganha um cachorro. Além disso, a maçã faz referência às histórias clássicas infantis, que remetem à fuga para um mundo imaginário, mas fazendo com que as crianças se atentem e não esqueçam de viver a sua própria realidade.


Estamos numa época em que só a Arte nos salva. A Arte nos ajuda a refletir sobre tudo ao nosso redor e sobre nós mesmos. Devemos nos atentar às críticas infundadas que querem apagar a nossa cultura e a nossa História, além da nossa capacidade de entender o que acontece em volta. Precisamos manter a Literatura viva, assim como a Arte em geral, para que a ignorância diminua e o bom senso permaneça, para que possamos criar e viver nossas próprias histórias em mundos imaginários, para que continuemos vivendo mil vidas em uma só.


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